Candidato, vocábulo que deriva de cândido, puro, íntegro. Quem dera a maioria correspondesse a essa etimologia... A ingenuidade de muitos candidatos a vereador se desfaz quando, convidado a concorrer às eleições, acredita que, se eleito, não será “como os outros” (quantos não disseram isso no passado e hoje...) e prestará excelente serviço ao município.
O que poucos candidatos desconfiam é que servem de escada ou de mula eleitoral para a vitória eleitoral de políticos que eles criticam. Para se eleger vereador, deputado estadual ou federal, é preciso obter quociente eleitoral - aqui reside o pulo do gato.
A Câmara Municipal comporta de 9 a 55 vereadores, de acordo com a população do município no caso de Cabrália serão 11 vagas em 2013. Cândidos eleitores imaginam que são empossados os candidatos que recebem mais votos. Ledo engano. João pode ser eleito ainda que receba menos votos do que Maria. Basta o partido do João atingir o quociente eleitoral.
Vamos supor, o município de Santa Cruz Cabrália-Bahia tem atualmente 17.717 eleitores.
Exemplo: Destes 17.717 eleitores, 2.500 deixam de votar, votam em branco ou anulam o voto. São considerados válidos, portanto, 15.217 votos. Como a Câmara Municipal tem 11 vagas, divide-se o número de votos válidos pelo número de vagas. O resultado dá o quociente eleitoral: 1.383 votos. Todo candidato que obtiver nas urnas 1.383 votos ou mais, será eleito vereador garantido sem precisar de nenhuma ajuda de outro candidato "mula".
É muito difícil um único candidato obter, sozinho, votos suficientes para preencher o quociente eleitoral. Casos como o do Tiririca são raros no Brasil. A Justiça Eleitoral soma os votos de todos os candidatos da mesma coligação ou partido, mais os votos dados apenas ao partido, sem indicação de candidato.
A cada 1.383 votos que a coligação recebeu, o candidato mais votado vira vereador. Se a coligação obteve 4.150 votos, ele terá, na Câmara Municipal, três vereadores. Os demais candidatos, que individualmente receberam menos votos do que os três empossados, ficam como suplentes. E a coligação que obtiver menos de 1.383 votos, neste exemplo, não faz nenhum vereador.
A lei permite que uma coligação apresente um número de candidatos até uma vez e meia o número de vagas na Câmara. Se o partido se coliga com outros partidos, a coligação pode apresentar candidatos em número duas vezes superior à quantidade de vereadores que o município comporta. Para uma Câmara que comporta 11 vereadores, cada partido pode ter 17 candidatos, e cada coligação, 22. Esta a razão pela qual os partidos lançam muitos candidatos. Quanto mais votos os candidatos obtêm, mais chance tem o partido, ou a coligação, de atingir o quociente eleitoral. E, portanto, de eleger os candidatos com maior votação individual.
Ora, se você pensa em ser candidato, fique de olho. Pode ser que esteja servindo de degrau. escada ou mula eleitoral para a ascensão de candidatos cuja prática política você condena, como a falta de ética. Enquanto não houver reforma política, o sistema eleitoral funciona assim: muitos novos candidatos reelegem os mesmos políticos de sempre!
Se você é, como eu, apenas eleitor, saiba que escolher o partido é mais importante que escolher o candidato. Votar de olho somente no candidato pode resultar, caso ele não seja eleito, na eleição de outro candidato do partido ou coligação. Como alerta o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, “mais frequente, porém, é a derrota e a frustração de pessoas bem-intencionadas, mas desinformadas. Ao se apresentarem como candidatas, elas mobilizam familiares, amigos e vizinhos para a campanha. Terminadas as eleições, percebem que sua votação só serviu para engordar o quociente eleitorado partido ou da coligação... Descobrem, tarde demais, que eram apenas ‘candidatos alavancas’” ou "mulas eleitorais" como tem muitos em Santa Cruz Cabrália-Bahia e nem sabem.
Convém ter presente que o nosso voto vai, primeiro, para o partido e, depois, para o candidato.
São raríssimos casos como o da manicure Sirlei Brisida, eleita vereadora em Medianeira no Paraná. com apenas 1 voto. Seu partido, o PPS, concorreu nas eleições de 2008 com nove candidatos. Pelo quociente eleitoral, apenas Edir Moreira tomou posse. E se mudou para o PSDB, acompanhado pelos outros sete suplentes. Sirlei, que adoeceu durante a campanha eleitoral, e não pediu votos nem à família, permaneceu filiada ao PPS. Agora, a Justiça Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido, no caso, ao PPS. Edir foi cassado e Sirlei, empossada.
Analista político Cabrália News