O baiano Alexandre de Souza Silva, 45 anos, filho de Porto Seguro, foi condenado a 11 anos de prisão e está numa cadeia situada no norte da Inglaterra, acusado, inicialmente, de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Mas, documentação de iniciativa do governador Jaques Wagner deflagrou a interlocução do governo da Bahia junto ao Ministério das Relações Exteriores, para a assistência consular, demonstrando a continuidade do apoio institucional que o governo da Bahia tem prestado ao caso.
Agora é a senadora Lídice da Mata que também interfere na esfera diplomática em favor da defesa do baiano e faz crescer a campanha pela libertação.
No dia 10, a senadora baiana enviou correspondência ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, Relações, solicitando assistência jurídica para o baiano. “Diante do princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório, aliado aos fortes indícios que afastam a autoria do crime do qual é acusado, solicito a possibilidade desta pasta, via defensor qualificado, patrocinar a defesa desse cidadão brasileiro”, solicita Lídice da Mata em seu comunicado endereçado ao titular do Ministério.
A Câmara Municipal de Porto Seguro já havia feito o mesmo em documento enviado ao Ministério das Relações Exteriores datado de 31 de março de 2011. “A minha luta é para conseguir um advogado especialista para provar o erro da Corte Britânica”, disse à Tribuna, que acompanha o caso, a professora Sonali Souza Silva, 55, irmã de Alexandre e principal mentora do movimento, que envolve políticos, imprensa e cidadãos, em torno da liberdade do irmão.
Outro parlamentar que deverá se manifestar, a qualquer momento, sobre o assunto, é o senador Suplicy, que já prepara documento favorável ao baiano para encaminhar ao Ministério, conforme a irmã do acusado.
No Dia das Mães, importante rede de televisão do Brasil exibiu reportagem destacando que a “mãe aguarda filho inocente sair da cadeia em Londres”.
Na Bahia, a TV Aratu também exibiu matéria com foco na ajuda que a família de Alexandre pede na mídia. Com o apoio da Câmara de Deputados, de diversos parlamentares e, em Londres, de duas Organizações Não Governamentais: LAI (Londres Contra Injustiça) e MOJUK (Erros da Justiça Britânica), o baiano, segundo sua irmã, diz estar determinado a provar a sua inocência e escreve, na cadeia, um livro sobre o seu drama por terras inglesas.
Recentemente, segundo Sonali, o irmão recebeu a visita de Bob Woffinden, famoso jornalista britânico, que em breve publicará uma matéria especial abordando o caso.
Em 25 de julho do ano passado, a Tribuna publicou uma entrevista exclusiva com Sonali Souza Silva e Alexandre, que vive há 20 anos na Inglaterra. “O fato de ele ser homossexual assumido resultou na prisão. Lá, ele trabalhou como faxineiro, garçom, se ocupou de cães e pessoas doentes, como voluntário ajudou a salvar vidas durante uma nevasca terrível em 2003 em Londres, onde está o bandido?”, questionou a professora, na oportunidade.
“Na Corte inglesa, muitas pessoas importantes prestaram depoimentos a favor do meu irmão. O Itamaraty acompanha o caso há mais de um ano e a senadora Lídice da Mata entrou no caso com muita coragem”, revelou a irmã à época.
"Não há prova"
Em julho de 2009, Alexandre de Souza Silva se mudou para a casa do amigo Júlio César dos Santos. Dez dias depois, a casa foi vasculhada pela polícia, que encontrou no local 27 gramas de uma droga conhecida como “Madonna”. O amigo confessou ser usuário e está preso.
A vida de Alexandre foi totalmente investigada, mas nada foi encontrado que pudesse justificar seu envolvimento com tráfico. Mas, o motivo da prisão foi mudado para “conspiração contra ingleses” e os familiares não sabem o motivo da nova acusação. No caso da relação com o comércio de entorpecentes ficou provado que as drogas apreendidas pertenciam ao seu colega de apartamento.
A família acredita que o baiano, que trabalha e tem residência fixa na capital britânica e luta para provar a sua inocência, é vítima de preconceito de origem, por ser brasileiro.
A Tribuna da Bahia publicou a entrevista de Alexandre de Souza Silva, concedida na prisão à repórter Bárbara Martau do Jornal Topa Tudo, de Porto Seguro (BA). Preso desde março de 2010 em Londres, acusado de conspiração, teve a pena reduzida de 15 para 11 anos. A decisão foi tomada em audiência para revisão de pena ocorrida no dia 20 de janeiro, na Corte inglesa.
Esta é a única entrevista concedida por Alexandre.
Pergunta - Conte, resumidamente, o que aconteceu no dia em que a polícia deu a batida na sua casa.
Alexandre Silva – Eu estava na rua quando recebi uma mensagem, no meu celular, do advogado de imigração do meu amigo com que eu dividia a casa, pois ele também é brasileiro. A mensagem dizia que havia polícia na casa procurando por ele. Resolvi retornar para falar com os policiais e ver o que estava acontecendo. Quando entrei, fui recebido na porta por um deles. Estendi a mão para cumprimentá-lo e ele me olhou de forma estranha. Me conduziu até a sala, me pôs sentado e me algemou alegando que havia drogas na casa. Chocado, eu me identifiquei e falei que estava morando lá fazia apenas 2 semanas. Me levaram pela casa, me revistaram, me fizeram acusações.
Fui chamado de drogado. Falei que não usava drogas, e ele (o que se identificou como chefe da investigação) disse que então eu era traficante. Respondi que não era verdade, expliquei que recentemente havia me mudado para lá porque justamente aluguei o meu apartamento para economizar porque eu tinha dívidas a pagar. Teve um momento que ele me fez outra pergunta e quando eu comecei a falar ele me interrompeu de forma agressiva e, rangendo os dentes, me pediu para que eu repetisse o que havia dito porque ele não entendia o meu sotaque.
Outro oficial chegou na sala e o “chefe” perguntou a ele se já havia terminado a revista na casa. O oficial respondeu que faltava a sala onde eu estava. Eu estava sentado em uma cadeira, algemado, de frente para a porta. Atrás de mim, à minha direita, havia um baú que me pertencia e, à minha esquerda, um pequeno embrulho que pareceu ser papel higiênico ou lenço de papel. Mas não pensei nada a respeito porque a casa estava bagunçada, com coisas espalhadas pelo chão. O oficial entrou, examinou o móvel, depois examinou o fichário, me fazendo perguntas enquanto andava. Apontou para o baú e perguntou o que era. Respondi que era meu, falei que tinha papéis e fitas cassete e de vídeo antigas que eu trouxe de minha casa na mudança, mas ainda não havia tido tempo de organizar porque eu viajava e só tinha passado quatro noites na casa.
Ele abriu, começou a mexer, a tirar os papéis, e colocou no chão atrás de mim. De repente ele pegou o pequeno pacote e gritou para os outros: “Olhe o que eu achei”. O chefe lhe perguntou onde ele havia encontrado. Eu tentei olhar, mas ele não permitiu e respondeu ao chefe que havia encontrado dentro do meu baú. Eu fiquei louco: “Você encontrou aonde? Por que está dizendo isso? Eu vi você pegando do chão, fale a verdade!”
O chefe falou: “Nós somos a Polícia britânica, nós não plantamos evidência”. Eu respondi: “Não ponha palavras na minha boca. Eu não falei que alguém plantou algo. Eu disse que ele não achou isso dentro do meu baú, e sim no chão”. Na hora eu pensei: “Alexandre, cale a sua boca, não fale mais nada, você está lidando com policiais corruptos que estão determinados a lhe implicar”. Depois disso fui para a delegacia.
P- Passados quase dois anos do fato, como você avalia a ação policial? Foi correta? E a Justiça britânica?
AS – Até esse acontecimento, eu devo admitir que não sabia nada de lei criminal ou de ação policial. Hoje eu sei que a prática deles foi incorreta. Primeiro, eles não deveriam ter entrado na casa sem a presença dos proprietários. Segundo, deveriam ter levado cão farejador e a busca tinha de ser filmada. Em terceiro, eles tinham que ter me tratado com mais respeito e sem comentários racistas em relação ao meu sotaque brasileiros. Em quarto lugar, tudo o que ocorreu na busca, todas as perguntas, respostas e comentários tinham que ser catalogados.
Durante o caso na Corte, os oficiais que estavam na casa (no dia da batida policial) perderam todas as anotações. Até o que disse que achou a droga dentro do baú admitiu que tinha anotado tudo, mas que também havia perdido as anotações. Eu tinha uma agenda, porque eu gosto de ser muito organizado, com todas as minhas contas, meu salário, gastos, coisas que comprei em minhas viagens para mim ou para outras pessoas, quanto dinheiro eu recebi, etc. A polícia deu sumiço nessa agenda. Nunca mais a encontrei. Ela estava na casa com meus papéis. Quando eles deram depoimento dizendo que perderam todas as anotações, eu achei um absurdo o juiz permitir esse fato. Eles também disseram que nunca viram a minha agenda.
Quanto à Justiça, a daqui só cobre Inglaterra e País de Gales. A da Escócia e da Irlanda do Norte é diferente. A Justiça tem legislações muito antiquadas que não refletem a realidade atual do país. fonte: tribuna da bahia