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domingo, 4 de maio de 2014

Facções disputam territórios em Porto Seguro na base da violência


Nas fotos dos turistas que passam por Porto Seguro, Extremo Sul da Bahia, o que geralmente aparece são as praias e as festas que fazem da cidade — junto com seus distritos — o segundo destino mais procurado por quem visita o estado, atrás somente de Salvador. No entanto, Porto Seguro está cheia de outras marcas, espalhadas por paredes e muros. São pichações e rabiscos com siglas das facções criminosas Campinho (CP) e Mercado do Povo Atitude (MPA), que disputam espaço na base da violência.

“Rapaz, aqui os bandidos às vezes dão um tempo. Mas quando um acha de matar o outro, não tem quem segure. É morte demais”, resume um morador do Complexo do Baianão, que abrange uma série de bairros populares, foi berço da facção MPA e conta desde 2013 com uma Base Comunitária de Segurança da Polícia Militar. No Baianão, estão por toda parte as pichações da MPA, que, segundo a polícia, tem ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa paulista que já atua em outros estados, fornecendo armas e drogas.

As marcações territoriais são tão comuns que podem ser encontradas até num “passeio” com a ferramenta Google Street View, que possibilita visões em 360° de boa parte das ruas do complexo. As siglas da rival Campinho, por sua vez, são vistas facilmente pela principais vias de Porto Seguro e até mesmo no acesso à praia de Arraial d’Ajuda, perto da balsa que leva à localidade.

Em março, ao assumir a 23ª Coordenadoria de Polícia do Interior (23ª Coorpin), sediada em Eunápolis, a delegada Valéria Chaves definiu o combate ao tráfico de drogas como prioridade na região, que vai abrigar duas delegações durante a Copa do Mundo. A Suíça ficará em Porto Seguro e a Alemanha vai se instalar no vilarejo de Santo André, na vizinha Santa Cruz Cabrália.

“Já estamos com investigações em curso, levantando informações e vamos ter operações para prender líderes desses grupos. Esse é o nosso foco, pensando principalmente nos moradores e também nos turistas, porque a cidade terá um grande movimento na Copa”, diz Valéria.

Divisão

Um dos responsáveis pelo enfrentamento a estes grupos, o delegado titular de Porto Seguro, Delmar Bittencourt, explica como as facções dividem as forças. A Campinho está espalhada pelo centro, nas áreas próximas ao Rio Buranhém e ao aeroporto. Além disso, detém o controle do comércio de entorpecentes nos famosos distritos de Arraial, Trancoso e Caraíva.

A facção não tem um comando centralizado e seus nomes mais fortes, na avaliação de Bittencourt, estão presos. São os irmãos Jadiel da Silva Medino, o Marrocos, e Jabes da Silva Medino, o Big Mel. Já a MPA, apontada como maior e mais violenta, comanda o crime na parte alta da cidade, onde está o Baianão. “A geografia dificulta nossas ações, porque eles ficam no alto e todos os acessos são visíveis. E tem uma área de mata fechada para onde os bandidos fogem quando a polícia chega”, argumenta Bittencourt.

Criada no bairro Mercado do Povo, que compõe o Baianão, a MPA é liderada por André Márcio de Jesus, o Buiu, Ás de Copas do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Ou seja, pela hierarquia das cartas, trata-se do segundo bandido mais procurado pela polícia baiana.

“Ele não fica aqui. Ele vem, passa as ordens e vai embora. Estamos mapeando seus movimentos e vamos prendê-lo”, garante o delegado. Buiu é acusado de, em novembro de 2011, após a morte de um comparsa, ter ordenado ataques que resultaram em lojas saqueadas, caixas eletrônicos destruídos e ônibus incendiados. Numa demonstração de poder, ele chegou a pagar um carro de som que circulou por Porto Seguro “convocando” criminosos para os ataques.

Dias depois, a polícia esteve perto de prendê-lo, ao invadir uma fazenda onde ele se escondia, na zona rural de Ilhéus, região Sul do estado. Na operação, quatro integrantes do bando de Buiu foram mortos e sua mulher foi presa, mas ele conseguiu fugir.

Mortes

Com Buiu ainda livre à frente da MPA e membros da Campinho também atuando, a disputa entre criminosos vai somando vítimas. “Houve momentos de a MPA não querer ninguém do centro da cidade no Baianão. Se entrasse, morria, porque é área do grupo rival”, revela Bittencourt. Mesmo levando em conta que Porto Seguro tem a maior população entre as cidades que formam a Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) 35 — 141 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE —, é notável a diferença para os vizinhos em número de mortes.

De acordo com dados da SSP, Porto Seguro teve 121 homicídios dolosos em 2013, enquanto a segunda colocada, Eunápolis, registrou 70. Porto Seguro teve ainda cinco lesões corporais seguidas de morte. Na região, as estatísticas só apontam mais um crime deste tipo no ano passado, em Cabrália. Dentre os crimes contra a vida registrados na Aisp 35 em 2013, Porto Seguro só perdeu a dianteira em uma modalidade: foram três latrocínios (roubos seguidos de morte), contra cinco em Eunápolis.

Na análise junto às três cidades baianas que ficam logo acima no ranking populacional, PortoSeguro ultrapassa todas em mortes. Alagoinhas, Teixeira de Freitas e Barreiras têm cerca de 150 mil habitantes cada. Em 2013, elas registraram, respectivamente, 80, 84 e 54 homicídios dolosos. Ainda não estão disponíveis dados oficiais deste ano, mas Delmar Bittencourt garante que as mortes estão caindo, principalmente depois da operação Cruz de Malta.

Em fevereiro, 17 suspeitos de tráfico e homicídios foram presos na sede e nos distritos de Arraial, Trancoso, Vera Cruz e Pindorama. Todos, segundo o delegado, pertencem a uma das duas facções. Os moradores torcem mesmo para que a criminalidade seja contida. As queixas partem até de quem, de certa forma, lucra com as mortes, como o dono de uma funerária. Em anonimato, ele disse: “Em dez funerais que recebo, oito são assassinatos. Isso tem que parar”.

Supostos bandidos usam redes sociais para demonstrar poder

Além de espalhar suas siglas para marcar território pelas ruas de Porto Seguro, membros (ou supostos membros) das facções criminosas travam uma disputa no ambiente virtual. Nas redes sociais, há dezenas de páginas com exaltação da criminalidade, gritos de guerra e postagens de fotos de armas e drogas e ameaças aos bandidos do grupo opositor.

As páginas são relativamente novas, todas criadas a partir do segundo semestre do ano passado, e os textos ali publicados carregam, em sua maioria, uma série de erros gramaticais. Numa postagem feita no início deste mês, um usuário identificado como Pikeno MPA escreveu: “Ta brabo pra vcs comedias do campinho  Se atravessar num vai ter vez não. MPa sempre no comando”. Outro usuário, que posta suas mensagens com a alcunha Campinho CP, respondeu no mesmo dia: “Avisa pros mpa que noixx ta tipo cosmo e damiao nois ta mandado bala pra geral... porto ta dominado”.


Correio da Bahia – Fotos: Reprodução
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