Os números são alarmantes. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), de janeiro a junho deste ano, 785 estupros foram registrados na Bahia, o que representa uma média de 4,23 casos por dia. Mais da metade das ocorrências, 465, foram registradas em cidades do interior da Bahia. Salvador marcou 239 casos e a região metropolitana, 81. As vítimas geralmente são jovens mulheres, crianças e adolescentes. A violência pode ser realizada por um ou mais indivíduos. Dos 239 casos em Salvador, 97 ocorreram na Região Integrada de Segurança Pública/Baía de Todos-os-Santos (RISP/BTS), composta pelos bairros Liberdade, Barris, Bonfim, São Caetano, Periperi e Cia. Já no interior do estado, os números são assustadores, principalmente, em relação a Vitória da Conquista. A cidade com aproximadamente 340 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), é recordista de violência sexual. De acordo com dados divulgados no site da SSP, dos 465 casos do interior, 87 ocorreram em Vitória da Conquista, o que representa uma média de 14,3 ocorrências por mês.Em agosto deste ano, mês que ainda não tiveram as estatísticas divulgadas pela polícia, oito casos de estupros envolvendo crianças e adolescentes foram registrados em oito dias em Vitória da Conquista. Segundo a Polícia Civil, os crimes foram cometidos por cinco pessoas, sendo que três delas já foram identificadas.
Vítimas de uma violência sexual podem carregar traumas para a vida inteira, como é o caso das irmãs identificadas apenas como Diana e Deise, da cidade de Guaratinga, interior da Bahia. Respectivamente com 29 e 18 anos, elas foram sucessivamente estupradas pelo pai, durante a infância. “Eu nunca denunciei. Quando completei 17 anos, fugi para Salvador e não voltei nunca mais. Sofri bastante aqui. Não confiava em ninguém e chorava por tudo, mas Deus foi me ajudando a superar”, contou Diana, que atualmente é casada e mãe de dois filhos. “Não tive problemas para me relacionar com meu marido, mas parece que ainda ouço a voz dele (pai) e isso, às vezes, me desespera”, contou.
Diana só tomou conhecimento da violência sofrida pela irmã quando a caçula resolveu denunciar o caso e colocar o pai na cadeia. “No fundo, eu sabia que ele iria fazer com ela o que fazia comigo, mas minha irmã foi mais corajosa do que eu e do que minha mãe”, contou.
De acordo com o psiquiatra André Gordilho, uma vítima de violência sexual pode carregar traumas para o resto da vida, se não procurar uma ajuda médica. “Essas pessoas podem desenvolver um estresse pós- trauma e a primeira reação aguda tem sintomas de depressão, ansiedade e pânico. É importante que realizem a denúncia e procurem ajuda médica para conseguir superar”, alertou.
Ainda de acordo com Gordilho, vários fatores podem levar um indivíduo a cometer um estupro. “Geralmente são pessoas com transtorno de conduta ou desvio de personalidade. Pessoas com padrão moral e ético inadequado. Porém, outros fatores também podem influenciar, como um transtorno mental, surto psicótico, alucinação, voz de comando ou hipersexualidade”, explicou. Não há um estudo científico que comprove a formação de um estuprador, mas algumas características são essências para identificação de um suspeito. “Geralmente são pessoas que enxergam a mulher como objeto, apresenta personalidade antissocial, ausência de culpa e sofrimento. A maioria dos casos ocorre com pessoas próximas à vítima, mas também podem ser realizados por um ladrão, homicida ou qualquer tipo de maníaco”, explicou o psiquiatra.