Deve chegar na noite desta quinta-feira (31), em Salvador, vindo de Porto Alegre, o estudante baiano Helder Santos, 25 anos, que deixou a cidade de Jaguarão, no RS, após sofrer ameaças de policiais militares. O estudante denunciou a agressão de PMs e foi obrigado a abandonar a universidade após receber cartas com ameaças de morte.
Sem ter onde ficar, Helder estava hospedado havia uma semana na casa de amigos na capital gaúcha. Com medo de voltar à cidade onde sofreu as ameaças, o estudante busca a transferência do curso de história da Unipampa para uma universidade na Bahia. "Estou muito confiante de que tudo vai dar certo", contou ao Correio por telefone.
A passagem foi comprada graças à doação de amigos e movimentos sociais. A cidade de Jaguarão, assim como os amigos, o emprego na prefeitura, os colegas de universidade e a casa ficaram para trás. "Não sei quando vou voltar", disse.
"Sofá, guarda-roupa, cama, fogão, todas essas coisas materiais vão ser doadas aos que estiverem chegando à cidade e precisarem. Mas infelizmente não há ninguém para assumir o trabalho voluntário com a juventude carcerária, com a juventude quilombola que desenvolvia lá", lamentou o estudante.
Em Salvador, nesta sexta-feira (1º), Helder deve se reunir com a secretária de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia, Vanda Sá Barreto, e com o secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia, Almiro Sena.
No entanto, a reunião mais importante deve acontecer amanhã à tarde. Helder se encontrará com o reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Paulo Gabriel, para negociar sua transferência para a instituição.
"Volta pra tua terra, baiano"
O incidente aconteceu durante uma revista policial após a saída de um baile de carnaval em Jaguarão, fronteira do país com o Uruguai. Depois de denunciar na Corregedoria da Polícia e na rádio local que tinha sido agredido e chamado de 'negro vagabundo' por policiais da Brigada Militar, o estudante, de Feira de Santana, passou a receber cartas anônimas com ameaças.
"Eram muito agressivos, me chamavam de 'baiano fedido', 'nego sujo', 'volta pra tua terra, baiano'. Pensei que se levasse as cartas à público eles não tentariam fazer nada contra mim", contou o estudante
Em um dos trechos, o texto diz: “Se tu for lá na Brigada e falar a verdade e me caguetar no meu processo, eu vou te cobrir de porrada. No carnaval, tu escapou, mas dei um jeito de embolachar teu amiguinho Seco Edson sem sujar as mãos. Deixamos a cara dele mais feia e preta que a tua, seu otário”.
Após as denúncias, as ameaças aumentaram. "Eles começaram a passar na porta da minha casa com a viatura ligada, várias vezes ao dia. Passavam bem devagar e, no início pensei que era apenas para me intimidar", contou o estudante de Porto Alegre.
Caso é investigado pelo MP
O caso está sendo investigado pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República, e pela Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Procurado pelo CORREIO, o comandante da Brigada Militar de Jaguarão, major José Antônio Ferreira, não retornou a ligação para dar esclarecimentos sobre a acusação.
"Eu estava concretizando tantos sonhos, minha casa estava toda mobiliada, minha vida estava toda estruturada. Deixei a Bahia só para estudar, fiz 'Livro de Ouro' para juntar dinheiro, passei listinha entre amigos que me ajudaram a comprar a passagem. Comecei a trabalhar na prefeitura, atuava com um trabalho voluntário na comunidade quilombola, com os presos, e estou saindo daqui sem nada", disse o estudante.