RIO E BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff dedicou boa parte de sua última propaganda no horário eleitoral na TV para criticar a revista ‘Veja’ pela reportagem em que afirma que o doleiro Alberto Youssef, em delação premiada à Justiça, teria dito que ela e o ex-presidente Lula sabiam dos desvios de dinheiro na Petrobras. Dilma afirmou que a revista “e seus cúmplices” terão de responder na Justiça pelo "ato de terrorismo", por não apresentar qualquer prova, visando apenas impactar no resultado das eleições.
— Hoje, a revista excedeu
todos os limites da decência e da falta de ética, pois insinua que eu teria conhecimento prévio dos malfeitos na Petrobras e que o presidente Lula seria um dos seus articuladores. (...) A começar pela antecipação da sua edição semanal para hoje, sexta-feira, quando normalmente chega às bancas no domingo. Mas como das outras vezes, e em outras eleições, Veja vai fracassar no seu intento criminoso. A única diferença é que, desta vez, ela não ficará impune. A Justiça livre deste país seguramente vai condená-la por este crime — reagiu Dilma, acrescentando:
— Não posso me calar frente a este ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja e seus parceiros ocultos. (...) Sem apresentar nenhuma prova concreta e, mais uma vez, baseando-se em supostas declarações em pessoas do submundo do crime, a revista tenta envolver diretamente a mim e ao presidente Lula nos episódios da Petrobras que estão sob investigação da Justiça (...) Isso é um absurdo, isso é um crime.
O programa petista acusa a revista: “Todas as eleições, quando candidatos do PT aparecem à frente das pesquisas, a revista tenta desesperadamente influenciar no resultado” diz o apresentador.
O tom das críticas na TV acompanhou manchete da página oficial da candidatura de Dilma Rousseff na internet, intitulado “Todo ano é a mesma coisa”, em que reúne copilado de capas da revista que, segundo o PT, tiveram o único intuito de provocar “terrorismo” no eleitorado contra o partido, Lula e Dilma, às vésperas das datas das votações em 2002, 2006 e 2010.
“Todo ano é a mesma coisa. A revista ‘Veja’ solta uma denúncia supostamente bombástica antes das eleições”, inicia o programa petista na TV, que afirma haver “falta de decência jornalística rotineira” no veículo.
Em seguida, o programa mostrou imagens dos últimos comícios da presidente pelo país, um clipe com famosos cantando um jingle e, ao fim, uma última declaração:
— Lutei contra a ditadura, venci a tortura e o câncer. Meu vício na esperança me ajudou a enfrentar as dificuldades e o que me leva adiante é a paixão pelo povo brasileiro. Dou minha alma ao Brasil — finalizou Dilma.
Em nota na própria home, a revista "Veja" rebate as acusações da presidente Dilma Rousseff e diz que "antecipar a publicação da revista às vésperas de eleições presidenciais não é exceção" e que a "presidente centrou suas críticas no mensageiro, quando, na verdade, o cerne do problema foi produzido pelos fatos degradantes ocorridos na Petrobras nesse governo e no de seu antecessor". A publicação acrescenta que "os fatos são teimosos e não escolhem a hora de acontecer" e que "eles seriam os mesmos se VEJA os tivesse publicado antes ou depois das eleições".
LULA USA TOM AMENO AO COMENTAR REPORTAGEM
Citado pela "Veja" na reportagem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também criticou a revista durante ato de campanha em São Paulo nesta sexta-feira. - O problema da "Veja" é que só ela fala - afirmou Lula.
Questionado sobre o que achava da reportagem, respondeu:
- Não acho nada.
Lula não discursou durante uma caminhada no Centro de São Paulo porque a legislação eleitoral proíbe a realização de comícios desde quinta-feira. De acordo com a Polícia Militar, o ato reuniu entre 1,5 mil e 2 mil pessoas em seu início. Mas ao fim do ato, declarou:
- Nos temos que mostrar que a nossa briga não é apenas em defesa de uma pessoa, mas de uma causa, em defesa de um projeto. Portanto, vamos para casa e amanhã se preparar. Porque, se deus quiser, a gente vai dar mais um show de democracia no domingo.
Outras lideranças petistas que participaram da caminhada também atacaram a revista. O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato derrotado ao governo do estado, classificou a reportagem como "um absurdo":
- É a última tentativa de influir no resultado da eleição.
O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, desdenhou da publicação:
- Faz três anos que não leio a "Veja" e vou continuar não lendo.
Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, criticou a publicação:
- Foi um gesto de desespero da "Veja".
No final do ato, Lula pediu aos militantes petistas que voltassem para casa e não aceitassem provocação. Na quinta-feira, petistas e tucanos entraram em confronto no Centro de São Paulo.
Procurado, o presidente do PT, Rui Falcão, informou, por meio de sua assessoria, que não comenta as publicações da revista.
O GLOBO