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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Gerente da Petrobras têm contratos milionários com prefeituras de Cabrália E Porto Seguro

BRASÍLIA - Responsável por direcionar verbas de patrocínio da Petrobras no Nordeste, o gerente de comunicação da empresa na região, Darcles Andrade, virou dono de postos de combustíveis que fecharam contratos milionários com prefeituras do sul da Bahia. Um dos postos foi adquirido em janeiro de 2013 e, dois meses depois, contratado pela prefeitura de Porto Seguro por R$ 4,1 milhões. Este e outro posto estão em nome da mulher dele, Creuza Rodrigues, e de um primo dela, Claudionor Brito.
A Ébano Derivados de Petróleo, que tem como nome fantasia Posto
Paraíso, foi contratada pela prefeitura de Porto Seguro em 2013 e 2014, em licitação, para fornecer combustível por um ano. A cidade é administrada por Cláudia Oliveira (PSD), esposa de Robério Oliveira (PSD), ex-prefeito de Eunápolis, cidade vizinha. Robério foi alvo de diversas ações de improbidade quando comandava o município. Para alegar a suspeição do promotor Dinalmari Messias, responsável pelos processos, ele utilizou um vídeo no qual o gerente da Petrobras dizia ter sido procurado pelo promotor para que não patrocinasse uma festa em Eunápolis.
O registro da Junta Comercial da Bahia mostra que a esposa de Darcles e o primo dela viraram donos de um posto em 3 de janeiro de 2013. O capital social registrado é de R$ 200 mil, mas o gerente afirma que o posto custou de “R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão”. Dois meses depois, o posto celebrou com a prefeitura o contrato para fornecer combustíveis por R$ 4,1 milhões. Em 2014, novamente foi contratado, agora por R$ 4,4 milhões.
Para justificar os gastos milionários em combustível, a prefeita assinou, em janeiro de 2013, um ato autorizando funcionários da administração a usar o próprio carro para o trabalho e abastecer no posto credenciado, além de ter firmado contrato para locação de veículos.
A esposa de Darcles e o primo dela são sócios também em Santa Cruz Cabrália do posto Costa do Descobrimento. Em 2012, o local passou a ser credenciado pela prefeitura com a previsão de R$ 1,9 milhão em gastos com combustíveis. O prefeito é o petista Jorge Pontes. Darcles diz que o posto voltou a fornecer para a prefeitura por ser o único do município que vende o diesel S10.
GERENTE NEGA LIGAÇÃO COM CONTRATOS
O gerente da Petrobras Darcles Andrade nega envolvimento direto nos negócios, mas se refere aos empreendimentos seguidas vezes como “nosso posto”. Afirma que a esposa juntou economias para comprar as duas empresas. Disse ser comum a busca por participação em licitações de prefeituras porque a margem de lucro da área é pequena, sendo necessário aumentar o volume de vendas. Ele reclamou ainda que há atrasos nos pagamentos.
— Não é bom negócio ser fornecedor de prefeitura. A relação com prefeituras é extremamente difícil. (A gente) Demora a receber por 30 até 60 dias. Tivemos até para desistir dos contratos por não suportar atraso — afirmou.
Indicado para a gerência enquanto José Sérgio Gabrielli presidia a Petrobras, Darcles diz não ser amigo dele e o conhecer apenas de eventos da empresa. Negou também ter proximidade com Robério ou a atual prefeita. Afirmou ainda não haver qualquer vinculação entre os contratos celebrados com os postos e os eventos realizados com patrocínio da Petrobras. Observou que o principal projeto no estado é de apoio a festas juninas e que, além destas duas prefeituras, outras 158 recebem recursos da estatal.
— É uma coincidência (a contratação dos postos). Esses patrocínios já existiam antes de eu estar aqui — disse.
A prefeitura de Porto Seguro afirma que a compra de combustíveis decorre de licitação e que é irrelevante a mudança de sócios pouco antes do certame. Afirma que o pagamento ocorre apenas de acordo com o consumo, não tendo repassado o valor total dos contratos. Segundo nota da assessoria, em 2013 foram repassados R$ 2,4 milhões e, neste ano, outro R$ 1,5 milhão. O valor estaria em parâmetro semelhante ao de 2012, quando foi repassado R$ 2,2 milhões ao posto que era detentor do contrato. A administração diz ainda que a utilização de carros de servidores é para “não onerar demasiadamente” a prefeitura com locação de veículos.
“A aquisição de combustível por qualquer ente federado é prática necessária e inerente a suas atividades administrativas, para o devido funcionamento da máquina pública, com foco no atendimento eficiente aos anseios da sociedade”, diz a nota da prefeitura de Porto Seguro.
O GLOBO não conseguiu contato com a prefeitura de Santa Cruz de Cabrália.
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